Cansaço, íssimo, íssimo (à boa maneira de Álvaro de Campos!)

17-12-2008 12:20

 Como é cansativa, a vida...

Já lá vai o vigor de outros tempos. O tempo de criança em que estar parado era algo para fazer só durante a noite enquanto se dormia, e só mesmo o corpo permanecia assim, pois a mente irrequieta viajava no mundo dos sonhos, incansável. E na manhã seguinte, estava-se recarregado para mais um dia de actividade sem pausas estacionárias, excepto nas horas da alimentação.

Nessa época, se houvesse cansaço, não passava da exaustão dos músculos, pois a mente nunca se fartava de explorar.

Hoje, acordo muitas vezes já cansado. Não é (só) por falta de sono, nem pelo esforço a que os músculos foram sujeitos no dia anterior; é um cansaço mental da própria vida. É o pior de todos os cansaços. E este também não é causado pelos sonhos que se teve durante a noite, é até mais pelas saudades de os ter… Porque, hoje, já não tenho mundo real para explorar, nem imaginação para o inventar nos sonhos. Já conheço quase tudo deste planeta. E é um planeta tão complexo e tão diversificado que qualquer criança adorará explorá-lo, mas depois de eu o fazer, e reparar que a minha vida apenas poderá passar por uma porção tão pequena desse planeta, fico cansado de ver, ouvir, sentir, saborear e cheirar as mesmas coisas, que, apesar de tantas, serão sempre as mesmas durante quase toda a minha vida… Cansa; toda essa rotina quase sempre idêntica todos os dias é o que me cansa.

Prefiro ir dormir e voltar a sonhar com as fadas e os dragões, como outrora, no mundo genuinamente infinito a que tinha acesso nos meus primeiros anos de criança.

 

 

João Abel - 12º B

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