Desperdício de Cotas. Uma carta aos alunos

21-11-2008 00:30

Preparar para a vida é, supostamente, aquilo que todos nós, enquanto professores e/ou pais, fazemos ou tentamos fazer com os nosso filhos e convosco, nas aulas e fora delas, na nossa vida profissional, pessoal e social. Através dos nossos conhecimentos, competências e da nossa experiência de vida, pretendemos conferir-vos, a vós, nossos alunos, e aos nossos filhos, um determinando número de saberes e de competências que vos permitam encarar o “mundo lá fora” de uma forma menos romântica e lírica que aquela que vos é transmitida (na maior parte das vezes) pela habitual imaturidade que vos vai colorindo a existência. O objectivo é fazer-vos ver que estais a construir um percurso de vida e que a sociedade vos atribuirá, em breve, um papel e que espera que o desempenheis bem. Trata-se, afinal, de vos preparar para “pegar o touro – a vida - pelos cornos” antes que ele (ela) vos trucide, vos enjeite e vos segregue.
Costumo realçar o grande benefício que será sempre para vós o terem alguém – um “cota” - em algum momento da vida, capaz de vos mostrar, com uma pequena margem de erro, aquilo que irá acontecer no futuro, alguém capaz de vos indicar opções, apontar caminhos, falar de liberdade, mas também de responsabilidade, e de vos alertar para as consequências dos vossos actos. Benefício, por duas razões: porque, na verdade, o futuro, em grande parte, se repete e porque, mais importante, nós, os mais velhos, já lá estivemos, já o experimentámos e já o vivemos. Na maior parte das vezes, nós, (hoje) “cotas”, fomos capazes de aprender – a não repetir os erros, pelo menos – mas fizemo-lo a expensas próprias e, não raro com elevados custos, alguns irrecuperáveis. Seguramente, com os vossos pais terá acontecido o mesmo.
É por isso que muitos “cotas” lamentarão hoje não ter tido ninguém que, quando foi preciso, lhes falasse da vida e os aconselhasse, não ter tido ninguém capaz de lhes proporcionar esse benefício. E é, também, por isso, que lamentam que os jovens de hoje, em geral, não os queiram ouvir. Trata-se, afinal, de um importante património de aprendizagens que se perde, porque não se transmite. Lamentável desperdício. Claro que esta situação só acontece pela cada vez menor importância que os mais velhos, os “cotas”, os idosos têm na nossa sociedade, na transmissão de saberes, de experiências, de valores, de cultura, enfim, de vida.
Há uns anos, recebi um mail que falava disso mesmo, da vida, da preparação para a vida (ver caixa). Não sei se as palavras serão mesmo de Bill Gates, o sr. Microsoft, mas isso é o que menos importa. Mesmo assim, palavras daquelas, mesmo que duras, ditas por alguém como ele – um ícone do sucesso - terão sempre (acredito) muito maior impacto junto de vós, do que quando ditas por qualquer vulgar “cota”, o que é pena. Num momento social tão complicado para todos, sobretudo para vós, jovens, que se vêem cada vez mais sem horizontes, seria importante recuperar-se o respeito pelos mais velhos, pelos “cotas”, pelos seus conselhos e por aquilo que eles podem ensinar, porque poderia poupar os mais novos de muitas decepções e angústias. Mas, em boa verdade, Gates nada disse de novo, apenas sintetizou e organizou melhor (tal como um computador) aquilo que qualquer um de nós, pai ou professor, vai dizendo ao longo da vida aos seus filhos ou aos seus alunos, por quererem o melhor para eles. Apesar de saberem que poucas são as vezes em que lhes dão ouvidos.
No capítulo do desenvolvimento, temos sido, ao longo dos séculos, um povo perito em esbanjar recursos: fizemo-lo na sequência dos Descobrimentos; fizemo-lo com África e temos vindo a fazê-lo com a Europa. Talvez fosse tempo de se aproveitar, pelo menos, o riquíssimo recurso que constitui a experiência e a sabedoria dos mais velhos, instruídos ou não. É um recurso que não se esgota porque nasce nos afectos; nasce no amor que um pai sente pelo filho ou na amizade que o professor dedica aos seus alunos. É só estar aberto e, humildemente, aproveitar.
Ah! Porquê a foto de Mourinho?! Tinha a certeza que assim vos chamava a atenção para o texto. Mas não duvido que é um "cota" que vocês não hesitariam em ouvir.

Abraço a todos. Com muita amizade.

Filipe Cálix, professor de EF

 

A “conferência” de Bill Gates

Convidado para discursar numa escola secundária, Bill Gates falou do modo como a "política educativa de vida fácil para as crianças" tem criado uma geração que não tem a noção da realidade e como esta política tem levado as pessoas a falharem nas suas vidas profissionais, depois de saírem da escola. Foi muito conciso: todos esperavam que ele fosse fazer um discurso de uma hora ou mais, mas Bill Gates levou menos de cinco minutos para dizer o que queria; conta-se que foi aplaudido durante mais de 10 minutos.

"Onze regras que os estudantes não aprendem na escola"

1. A vida não é fácil, acostumem-se a isso.

2. O mundo não está preocupado com a vossa auto-estima. O mundo espera que vocês façam alguma coisa de útil por ele, antes que vocês se sintam bem convosco próprios.

3. Vocês não vão ganhar 5.000 USD por mês assim que saírem da universidade. Vocês não serão directores de uma empresa com carro e telefone à disposição, sem que antes tenham conseguido comprar o vosso próprio carro e telefone.

4. Se vocês acham que os vossos professores são exigentes, esperem até terem um chefe. Ele não vai ter pena de vocês.

5. Vender jornais velhos ou trabalhar nas férias não está abaixo da vossa posição social. Os vossos avós têm uma palavra diferente para isso: chamam-lhe oportunidade.

6. Se vocês fracassarem, a culpa não é dos vossos pais. Por isso não os culpem dos vossos erros; aprendam com eles.

7. Antes de vocês nascerem, os vossos pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as vossas contas, lavar as vossas roupas e ouvir-vos dizer que eles são "ridículos" (vulgo "cotas"). Antes de quererem salvar o planeta para a próxima geração, desejando reparar os erros da geração dos vossos pais, tentem limpar o vosso próprio quarto.

8. A vossa escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e vencidos, mas a vida não é assim. Nalgumas escolas vocês chumbam mais de um ano e têm tantas oportunidades quantas forem precisas até passar. Isto não tem nada a ver com a vida real. Se pisarem o risco, são despedidos... Por isso, façam bem à primeira!

9. A vida não é dividida em trimestres ou semestres. Vocês não terão sempre os verões livres e é pouco provável que os outros empregados vos ajudem a cumprir as vossas tarefas no final de cada período.

10. A televisão não é a vida real. Na vida real, as pessoas têm que largar o bar e o café e ir trabalhar.

11. Sejam simpáticos com os "estudiosos" - aqueles estudantes que muitos julgam que são uns idiotas. Existe uma grande probabilidade de vocês, um dia, virem a trabalhar para eles.

 

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